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Ah, o coração...


coração






Acho uma pena que falar em coração tenha se tornado uma coisa tão antiga.Mas o fato é que tornou-se.Coração dilacerado, coração em pedaços, coração na mão


Sentimos tudo isso, mas a verbalização soa piegas.


E, no entanto, estamos falando dele, do nosso órgão mais vital, do nosso armazenador de emoções, do mais forte opositor do cérebro, este sim, em fase de grande prestígio. O que está em alta? Inteligência, raciocínio, lógica, perspicácia! Gostamos de pessoas que pensam rápido, que são coerentes, que evoluem, que fazem os outros rirem com suas ironias e comentários espertos. Toda essa eficiência só corre risco de desandar quando entra em cena o inimigo número 1 do cérebro: o coração.


É o coração que faz com que uma super mulher independente derrame baldes de lágrimas por causa de uma discussão com o namorado.É o coração que faz com que o empresário que precisa enxugar a folha de pagamento relute em demitir um pai de família.É o coração que faz com que todos tremam seus queixinhos quando o Faustão põe no ar o quadro arquivo confidencial!


Eu gostaria que o coração fosse reabilitado, que a simples menção dessa palavra não sugerisse sentimentalismo barato, mas para isso é preciso tratá-lo com o mesmo respeito com que tratamos o cérebro, e com a mesma economia.


Se a expressão “beijo no coração” é considerada “over", voltemos a ser simples. Mandemos beijos e abraços sem determinar onde; quem os receber, tratará de senti-los no local adequado.







Martha Medeiros


O Pudim







Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir Pudim de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente um pedacinho minúsculo do meu pudim preferido. Um só. Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um pudim bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.


O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano. A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco. Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons. Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil'). Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta. Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo. Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai. Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação... Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão... Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'.Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos. Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções. Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'... Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar vários pedaços de pudim, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado. Um dia a gente cria juízo.

Um dia. Não tem que ser agora. Por isso, garçom, por favor, me traga: um pudim inteiro um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK? Não necessariamente nessa ordem. Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago . "


Autoria: Martha Medeiros - escritora, jornalista e colunista do Caderno Donna ZH


E lembre-se: "Viver as experiências que a vida nos oferece é obrigatório, sofrer com elas ou desfruta-las é opcional.."

Homem Big x-tudão

Leia essa crônica... 

Big x-tudão 


Estou no terceiro chope quando junta-se a nós uma amiga retardatária. Está descabelada, com olheiras de rímel, vinda de uma matinê. Acaba de se despedir de um rapaz bonito, espirituoso, bem vestido e x-tudo.



- X-tudo??? - pergunto.

- Separado!

- Tem filhos?

- Não. Se tivesse, seria um big x-tudo.



Ainda estou assimilando a nomenclatura quando outra amiga começa um discurso no qual defende que, depois dos 30 anos, homem sem história até pega mal.




- Se nunca casou, nunca morou junto, nem namorou sério, o cara tem algum problema - diz ela.

- Bloqueio, medo de se entregar a uma relação...

- Chulé, mau hálito...



É nessa hora que todas começam a falar ao mesmo tempo e, no meio da balbúrdia, concordam que a gente costuma procurar o igual: separadas, queremos um homem que também já tenha se casado; mães, procuramos um homem que já tenha experimentado a paternidade. E por aí vamos.



- Pior é o big x-tudão!

- Big x-tudão???

- Separado, com filhos e ex-mulher neurótica.





Bem, eu nos últimos tempos ando de regime de lanches kkkkk




Vi também esse fragmento no Blog Pseudônimos da Rosana Caiado. Amei!
 



“A paixão é um cabresto que te leva a pensar que ele é o único homem no mundo. Não é. A vida nos reserva muitos amores. Eu mesma já tive alguns. Com sorte, faltam poucos. Com muita sorte, falta um só”.
Ela desconhece a autoria, eu busquei no Google e só achei a frase no blog dela... 
então...ou foi ela que escreveu ou foi o tal "autor desconhecido".

Pra Falar de Amor

Eu te chamei aqui porque queria te falar sobre grandeza. Mesmo mal te conhecendo, sofria de uma urgência de falar sobre o quanto eu aprendi nesses anos, o tanto que eu carreguei de bagagem, como alguém que volta de uma viagem cansada, mas ainda tem força pra mostrar as fotos. Eu te chamei, disfarçando essa inocência com algum conhecimento adquirido ao longo do tempo. E ostentando um resquício de orgulho,exibi meus valores, princípios e tudo aquilo que me fazia pensar ser uma mulher muito vivida.

E você respondeu com silêncio. Um silêncio de alguém que escuta, atento, a uma informação que na verdade poderia continuar não dita, mas sabe-se lá o por quê, naquele dia era algo que te importava. Dedicado em interpretar cada palavra, gesto e tom de voz, você me deixou falar. Quando ninguém mais no mundo me ouvia.



Eu te puxei pra cá porque queria falar de tristeza. Como uma criança que acabou de cair da bicicleta, eu vim correndo te mostrar o machucado. Exposto, ardendo, fazendo companhia a uma porção de cicatrizes. E, mesmo sabendo que ele, assim como todos os outros, iria fechar com o tempo, eu quis que você olhasse. Eu contei minha novela triste, aumentei o teor do drama. Me fiz vítima, entregue, cansada.

E você, outra vez, respondeu com silêncio. Esse silêncio confortável, um que existe enquanto a minha cabeça encosta no seu ombro. Um silêncio que cuida, faz o tempo passar, diz mais do que qualquer conversa de regeneração. Preocupado em fazer o resto do caminho valer à pena, você colocou um abraço ao meu redor, e eu voltei a pedalar em segurança. Quando já achava que nem tinha porquê seguir.



Eu te fiz ficar porque queria falar sobre alegria. Queria te contar do quanto ainda me admirava descobrir algo tão doce, quando todos os doces já me pareciam amargos. Eu quis te falar do sol que eu vejo mesmo quando fica nublado, do tanto que o meu peito se aquece mesmo nesses dias de inverno. Quis avisar do quanto o tempo me surpreende, de como o contraste da vida aumentou, do quanto cinco dedos entrelaçados aos meus fizeram tudo ser possível.

Você me abraçou e me fez dançar no quarto. Riu dos meus defeitos e me comprou um guarda-chuva novo. Me acordou com café da manhã na varanda e descobriu a melhor maneira de abraçar alguém enquanto dorme. Extrapolou a minha probabilidade de sorrisos e preencheu o predicado de tudo em que hoje eu sou sujeito. Inspirou, acolheu, fez melhor e falou o que sempre precisei ouvir. Uma resposta sincera, completa, inédita.



E aí fui eu que calei.

Porque quando não sou eu que falo, quando o meu coração palpita e eu calo, é você que fala em mim. E quando a gente fala junto, quem se cala é o próprio mundo, pra ouvir falar de um amor sem fim. 


* Já viram que virei fã né? Cada palavra parece que fala de um mundo que vivo ou que  também vivi.

A Inveja










De todos os personagens mitológicos criados, existe um que realmente me intriga: a inveja. Dona inveja, até onde se sabe, percorre mundos e fundos com uma única missão: fazer mais e mais pessoas acreditarem na vil teoria de que ela tem o poder. E que poder! Com um leve toque da danada, o pobre contaminado já vira uma sanguessuga de primeira, saindo por aí tal qual um vampiro em busca de pescoço.



Podemos dizer que sua viagem missionária começou há muito tempo atrás, mais precisamente quando o tal do Poder começou a dar as caras. Pois bem, desde então, inveja e poder não se suportam, não é segredo pra ninguém. São bastante típicas essas guerrinhas mitológicas, mas mais comum do que elas é o seu resultado: os mortais é que sempre acabam pagando o pato.



E cá estamos nós, essa gentarada transitando por aí em posições desiguais. Uns com tantos, outros com poucos, enfim, o cenário perfeito para a nossa vilã agir. Porém, ciente de seu poder degradante (e da de nossa incapacidade de distingui-la da pura e simples admiração) a população iluminada resolveu fazer justiça com as próprias mãos: criou um contra-ataque para a pobrezinha. E tudo seria um triunfo se as armas não fossem assim tão...confusas. Pé de pimenta, amuleto de figa, olhinho grego, galho de arruda... Comé que é mesmo?



Aí vieram esses dias me oferecer o "colar do mau olhado" e quem olhou torto fui eu. Ok, tenho lá minhas superstições básicas, mas não consigo entender a vantagem de se andar com uma salada no pescoço. Já é absurdo pensar que eu perderia alguma conquista minha só porque “fulana não gostou”, mas mais absurdo ainda é pensar que uma pobre pimenta barraria o problema. Engraçadas também são as pessoas que jurampordeus (e adoram!) serem invejadas. Ué, penduricalhos no pescoço pra quê então?



É por isso que pra mim a inveja é quase um mito. Uma amiga imaginária, que só aparece pra quem quiser ver. Apesar de reconhecida como pecado capital, se você realmente não der bola, ela não faz nada. Nem a minha fama e quem dirá o meu Ibope. É só um termostato bobo que me avisa sempre que o melhor é me garantir sozinha. Porque uma coisa é acreditar no amuleto, outra bem diferente é botar fé em você mesma.





Autoria: Milena Gouvêa







* Assino embaixo. Tema sempre atual e verdadeiro. no universo feminino (no masculino também, mas eles não dão tanta bola pra isso)

Taquicardia

 Crônica maravilhosa de se ler!




Já era esperado que o tempo fizesse tantos rodeios para te trazer. As melhores coisas da vida – as mais densas e as mais doces – podem demorar anos para chegar ou serem percebidas. Príncipe encantado é uma delas. Dizem que eles vêm à cavalo, mas sei lá por que (vai ver foram as tuas rebeldias) você resolveu vir à pé. Veio devagar, olhando a paisagem, sem pressa de chegar. E eu aqui, com esse coração desiludido! Apressado para encontrar alguém, porém preguiçoso demais para arriscar. Demorou, demorou. Tão lento quanto ele. Mas chegou, mas veio.



E também quando veio, não houve cardiologista que desse jeito. Carros de fórmula 1 ficariam para trás, foguetes repensariam seus conceitos sobre velocidade. Até a luz pararia para tomar fôlego. Não venceriam, não do lado deste coração aqui. Ganhou vida de novo, acelerou completamente. Cento e vinte batimentos por minuto e você em todos eles. Bombeando vida pro corpo, motivo para os dias, pulsação de novidade.



Virou totalidade. Coração na boca, coração na mão. Fiz das tripas coração. E quando vi, era você em toda parte. Na certeza, na surpresa, no impulso que me fazia apaixonada e nessa serenidade que é achar um porto seguro. Eu era eletricidade. Inflamável à tua presença, iluminada por essa vida nova. O coração seguia palpitando, acelerando. E eu, desde então, segui Fernando.



Diga trinta e três: nunca me senti tão viva. Diga um ano e cinco meses: a felicidade resolveu provar que existe. Diga infinito, meu amor, que eu vou lá buscar pra nós. E nós vamos provar pro mundo que frio na barriga e rotina dançam juntos, que a chance a sorte podem ser amantes. Que tudo pode até ser assim cético e cinza, mas no meio de tanta friagem, a nossa verdade existe. Imune ao tempo, indiferente à distância, bem cuidada como todo coração deve ser.



E o meu segue quente, fervendo,
acelerandosódepensaremvocê. Aliviado pela luta vencida, mas renovado pelo prêmio do final. Mais forte, mais vermelho. Hoje ele não bate: espanca. Sacode, move o mundo. Grita teu nome. Desestimula os dias sem você a fazerem sentido. Treina rápido e acelera, porque sabe que tem muito ainda pela frente. E sorri tranqüilo a cada dia, por ter um milagre tão grande e constante para agradecer. Piegas ao extremo, romântico de nascença. Mas nunca, nunca mais o mesmo. Eu só vivo amor desde que resolvi viver você.




Autora:  Milena Gouvêa





* Um dos textos mais lindos que li...compartilho com vocês!