Confiança: o inimigo pode dormir ao seu lado







Vou falar sobre um tema estranho e ao mesmo tempo tão comum aos dias de hoje: confiança. Na verdade, a falta dela. Confiar em alguém é algo bonito não é mesmo? Você deposita sua confiança, conta seus segredos, sonhos, desejos, troca confidências e tudo o mais. Entre amigas, isso é fato corriqueiro, como também o é mudar de melhor amiga. Na adolescência então, o que a gente troca de amiga é que nem troca de roupa. Mas e quando o ser que você deposita sua confiança é o seu companheiro de anos? Bom confiar em alguém que dorme conosco, que nos faz carinho e tudo o mais...porque quando você deposita seu amor em outra pessoa, acredita que ela seja especial, diferente das outras pelo menos. Mas de repente você descobre que nada do que você acreditava nesse sentido era verdade e isso te modifica pelo resto da vida. Modifica o teu ângulo de visão sobre a vida, sobre as pessoas.



Conhecemos as pessoas más pelos jornais, revistas e televisão. E usando o termo "aconteceu lá, não vai acontecer comigo", a gente vive.Sobrevive.Sem saber que o inimigo dorme ao seu lado...

Fui casada por cerca de onze anos com um homem que me dizia todos os dias que me amava. Nunca dormi sem ouvir "eu te amo, amor" e eu respondia:"eu também". Nem quando ele estava viajando.Nenhuma das minhas amigas casadas tinha algo assim. Muitos homens amam, mas falam pouco sobre isso não é? Pois bem,ouvir isso todo dia te dá uma confiança maravilhosa de que se é amada, não tenha dúvidas. Ouvir quando eu tinha ciúme de alguém: "Amor, mal dou conta de você, imagine de outra" ou a pessoa quando estava comigo nunca olhar pras outras na minha frente,(diferente de outros homens safados que paqueravam na frente das mulheres), ou ainda chegar sempre em casa cantando: "amore mio, cadê você?" tudo isso somando dá a qualquer pessoa a certeza do amor. Presentes, almoços e jantares no dia do aniversário, cartões e mensagens no celular faziam parte do meu cotidiano.Então, eu confiava. Cegamente.E trabalhava,...Meu Deus, como eu trabalhava...três períodos e ainda vendia roupas, tudo para termos uma vida pelo menos decente para nós e nossos filhos.



Quando minha filha caçula nasceu tive depressão pós-parto aliada a uma estafa gigantesca. Por causa de um preconceito besta dele fui me tratar com um neurologista, o que me agravou o estado. E dele eu só ouvia que ia passar porque ele me amava e pronto.Não passou, pelo contrário, piorou.E fui relegada a um segundo plano em tudo, com a desculpa de que estava "doente" ele recebia meu salário e gastava como queria.Toda essa situação foi,é claro, chegando a um extremo.Tive um colapso nervoso e pedi que ele saísse de casa, porque com ele eu não melhoraria. A saída dele, embora tenha sido algo extremamente doloroso, também me mostrou com quem eu estava casada. Ele tinha uma amante da metade da idade e, como sempre acontece, todos sabiam, menos eu. Com a saúde abalada, ainda ouvi dele que ele não tinha condições de cuidar de "gente doente" e que o que queria era "viver". Fiquei perdida. De repente, o homem que eu confiava, que se mostrava um homem íntegro, que não gostava nem que eu dissesse palavras ou expressões xulas (a demagogia em pessoa) se mostrou a mim e aos meus filhos como realmente era.

Mesmo depois de um certo tempo, quando ele quis voltar e se dizer arrependido, não havia mais jeito.Confiança quebrada dessa forma não se estabelece mais o elo. Eu teria perdoado a traição, tranqüilamente. E que homem não trai? Mas perdoar tantas mentiras e a omissão com minha saúde, com os filhos,com as contas e outras tantas coisas que descobri não havia jeito.







Uma relação a dois se faz de companheirismo. Acredito que um cuida do outro. Além de amor, o casal tem que ter amizade. Quando um só enxerga o seu caminho, já passou da hora de estar sozinho. Ou, pelo menos, não comigo ou com você!



Hoje sou uma pessoa bem diferente do que fui. Mais segura de mim, do que quero, do que gosto. E acredito ainda que existam homens em que se pode confiar, mas são raras exceções da natureza.



E você? O que acha?